Este artigo é a continuação de outro anterior, que precisa necessariamente ser lido em sequência. Se você não leu o primeiro, leia ele aqui:

Entenda como funciona a Análise Biomecânica em Vídeo – Pt. 1: A Análise

Continuação…

          

Diagnóstico 1 – Sem dúvida, a grande maioria dos tenistas de elite utilizam a empunhadura continental para sacar. As variações encontradas estão relacionadas à uma pequena mudança para a empunhadura eastern de backhand, que permite o tenista colocar mais efeito slice ou topspin à bola. Portanto, uma empunhadura eastern de forehand não fazia sentido. Além disso, repare que o dedo indicador não se posicionava em forma de “gatilho”, como recomendam os manuais de empunhaduras. Este dedo indicador mais à frente aumenta a sensibilidade do sacador. Esta foi a primeira mudança, acompanhada de alguns treinos de adaptação.

Diagnóstico 2 – O tenista analisado apresentava a concentração do peso corporal sobre o pé de trás (direito). Com isso, poderia executar apenas meio movimento de “balanço”. Lembrando que “balanço” completo significa iniciar o saque com o peso concentrado no pé da frente, transferir para trás e novamente para frente, com o intuito de iniciar a produção de velocidade nas articulações envolvidas neste golpe. Sugeri então a mudança. Em princípio, o tenista apenas simulou o movimento de saque, sem lançar a bola, para se concentrar apenas nos movimentos dos membros inferiores. Depois passou a executar o saque, normalmente. Foi muito bem nesta fase, sem maiores dificuldades. Percebeu que realizando o “balanço” completo, conseguia projetar o corpo mais à frente. Essa maior projeção facilita o momento linear, importante fonte de potência para o saque.

Diagnóstico 3 – Durante o lançamento da bola (toss), é recomendado que o cotovelo esteja totalmente estendido. Desta forma, a chance da bola ser lançada para trás será menor. Sabemos que a bola deve ser lançada um pouco à frente do corpo do sacador, para que este possa projetar seu corpo em direção à bola e assim gerar potência, o que não estava acontecendo com o tenista em questão. Portanto, a dica neste caso foi lançar a bola “com o ombro” e não “com o cotovelo e/ou punho”. Além da dica verbal, fizemos treinos específicos de toss, com um alvo posicionado dentro da quadra, à frente da linha de base. O tenista sacava aleatoriamente, até que em alguma das tentativas, a partir de uma voz de comando logo após o lançamento da bola, deveria abortar o saque e deixar a bola cair na quadra. A bola deveria cair no alvo pré-estabelecido. Desta forma, o tenista vai  condicionando-se a lançar a bola à frente.

Observação- para demonstrar a íntima relação entre as fases do saque: após este exercício, ainda na Fase 2, o tenista já apresentava melhora no Diagnóstico 6 (posicionamento do pé esquerdo), na Fase 6, pois estava sendo obrigado a entrar mais na quadra para golpear a bola.

Diagnóstico 4 – A rotação do quadril é um importante componente do saque. Podemos dividir esta rotação basicamente em 2 partes: uma para trás (fase de backswing) e uma para frente (fase forward swing). O movimento de rotação do quadril para trás vai oferecer uma maior amplitude ao sacador para executar a rotação para frente nas próximas fases. Esta rotação para frente aumentará o momento angular do movimento de saque, outra importante fonte de potência. Uma dica simples para executar esta rotação para trás é sincronizar este movimento com o toss. É o chamado toss em “J”,  onde o tenista conduz o braço que lança a bola mais para trás, paralelo à linha de base.

Diagnóstico 5 – O antebraço não-dominante próximo ao tronco é um eficiente mecanismo de controle do saque. Ele ajuda a estabilizar o sistema um pouco antes do contato com a bola, que sabemos ser o instante crucial de todos os golpes. Alguns tenistas, principalmente aqueles que utilizam muita potência no saque, como Andy Roddick, posicionam o antebraço não-dominante muito próximo ao tronco nesta fase. Porém, nas próximas fases do saque, a maioria dos tenistas mudam essa posição, levando-o para o lado contra-lateral (no caso de Roddick, que é destro, para o lado esquerdo). Essa mudança de posição libera a rotação do quadril, deixando o ombro dominante e demais estruturas do sistema passarem à frente, aumentando a transferência de energia. Repare nas fotos comparativas, especificamente as últimas duas: o modelo (Safin) finaliza o saque com o ombro esquerdo mais voltado para trás, evidenciando essa maior transferência. Utilizo a seguinte dica: quando a raquete golpear a bola, sua mão deverá estar próxima do bolso, ou seja, em uma posição mais próxima a do modelo. Se a mão estiver muito alta nesta fase, próxima ao peitoral, por exemplo, a potência do saque poderá ser prejudicada.

Diagnóstico 6 – A aterrissagem com o pé esquerdo (no caso dos destros) dentro da quadra é uma característica marcante dos grandes sacadores. Como exceção à esta regra, o último grande tenista (e sacador) que conhecemos e que não apresentava esta característica foi o alemão Boris Becker, campeão de Wimbledon com 17 anos. Becker sacava trocando os pés, ainda no ar, aterrissando então com o pé direito na quadra.

No caso do tenista aqui analisado, apesar de já haver melhorado este componente do saque, devido à melhora do “balanço” e também ao toss mais à frente, fizemos outro exercício corretivo para reforçar a importância de aterrissar dentro da quadra. Fizemos o treino de saltar sobre uma folha de papel, colocada logo a frente da linha de base. Este treino também reforçará o ciclo de flexão/extensão dos joelhos, necessário para realizar este salto para frente. Aqui, mais um vídeo que já foi mostrado anteriormente:

Diagnóstico 7 – Também é importante analisarmos o posicionamento do pé direito nesta fase do saque. Na verdade, todo o membro inferior direito (no caso dos destros) deve movimentar-se para trás nesta fase, com o intuito de equilibrar as forças geradas durante o saque. Este movimento para trás é popularmente conhecido como “coice”.

Como exercício para desenvolvimento deste item técnico, pedimos para o tenistas simular o saque, executando o “coice” e em seguida equilibrando-se já na posição final do saque.

Diagnóstico 8 – Este item se refere à continuação do Diagnóstico 5, ou seja, o antebraço não-dominate deve continuar movimentando-se contra-lateralmente, à esquerda, nos caso dos destros. Um treino bem simples para desenvolver a técnica de levar o antebraço não-dominante para o lado: pegue duas bolas para sacar. Lance uma delas para golpear, e arremesse a outra para trás, sincronizando com o movimento de saque.

Prof. Dr. LUDGERO BRAGA NETO

Mestre e Doutor em Biomecânica do Tênis pela USP, onde criou a disciplina “Tênis”. Tenista 1a Classe pela F.P.T., é Coordenador Técnico da Academia Slice Tennis (Alphaville), onde já treinou alguns tenistas de destaque, como Jenifer Widjaja e Thomaz Bellucci.

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