Se você só muda as cordas quando elas quebram, chegou a hora de rever seus conceitos
Por acaso já passou pela sua cabeça qual seria o momento exato de trocar suas cordas da raquete de tênis? Tenho certeza que sim, mas infelizmente, a maioria dos tenistas recreativos esperam as mesmas estourar para mandar encordoar.
Em paralelo, vamos verificar uma coisa bem interessante no circuito profissional de tênis. Dificilmente você vê o tenista profissional, estourar uma corda durante um jogo e existem alguns motivos para isso. O primeiro, é que aquele momento é o momento de trabalho dele, vale muito dinheiro e sim, cada ponto é extremamente importante. O segundo é que o tenista, seja ele, amador ou profissional, quanto mais tempo ele está em quadra, é natural que sua sensibilidade quanto a calibragem de seu equipamento aumente e com essa percepção é possível sentir que sua raquete, suas cordas, já não se comportam mais como se comportava horas ou poucos dias depois de ser encordoada. Terceiro motivo é que o tenista profissional tenta durante o jogo ter a menor quantidade de variáveis possíveis, pois assim é mas fácil de obter o ritmo da partida e realizar um bom trabalho, saindo com a vitória. As vezes as condições de jogo mudam e já vimos vários tenistas perder um jogo que estava praticamente ganho por estas variáveis inesperadas.
Gostaria de pedir ao leitor neste momento a sensibilidade de perceber que o tênis é um esporte com muitas variáveis e as vezes devido as diferenças físicas do atleta, diferenças de equipamentos, temos que trabalhar com um modelo e compará-lo a um modelo de equipamento correspondente para termos uma linha de raciocínio correta, por exemplo, não adianta comparar um jogador com estilo de jogo do Roger Federer, com o estilo de jogo do Rafael Nadal, são diferentes, tem virtudes diferentes, deficiências diferentes, o mesmo não podemos fazer se compararmos uma raquete cujo aro tem uma área de cabeça de 90 polegadas quadradas com uma raquete que tem uma área de cabeça de 118 polegadas quadradas, é obvio que as raquetes, nesse caso os jogadores, tem qualidades e características diferentes, me prometem essa percepção?
Suponhamos que o caso aqui é de um tenista recreativo, que tem um estilo de jogo onde predominam os golpes mais retos, sem tanta presença de top spin. A este estilo de jogador, podemos observar que se ele encordoar sua raquete com um co-polimero (Luxilon Alu Power, Babolat RPM, Toalson Devil Spin, etc) enfim, as cordas rígidas, dificilmente ele vai estourar este encordoamento em poucos dias, as vezes este tenista passa meses, anos com a mesma corda na sua raquete. É correto isso? Colocar a corda mais rígida possível e ir no encordoador cada vez que faz aniversário? Podemos dizer que não.
A batalha entre corda e raquete
Quando encordoamos uma raquete, este é o momento em que ela está sofrendo maior stress, ela esta sendo puxada de um lado para o outro e milimétricamente mudando de forma e tamanho. Depois que puxamos de lá para cá e damos o nó deste encordoamento, inicia uma batalha de forças entre a raquete e a corda, onde o objetivo maior do aro da raquete é voltar a seu estado de repouso, sem ser pressionada em lugar nenhum (lembramos que a raquete é redonda e seria como uma bexiga cheia de ar, se apertamos de um lado esse ar vai se locomover para outro lugar e estufando onde achar mais conveniente) e o objetivo da corda de sua raquete é evitar que isto aconteça, mantendo a tensão instalada e formato novo que a raquete possui, normalmente menor do que o momento “relaxado” da raquete.
Nesta batalha, na maioria das vezes, quem vence é a raquete, por isso podemos afirmar que TODA, MAS TODA CORDA, PERDE TENSÃO, ALGUMAS MAIS OUTRAS MENOS, MAS TODA CORDA PERDE um pouco de tensão mesmo sem ser utilizada durante um jogo. Estudos mostram que o momento de maior perda de tensão de uma raquete é logo nas primeiras 24 horas depois de ser encordoada, mesmo se encordoarmos e pendurá-la na parede de casa sem ao menos tocá-la. Esse é o principal motivo pelo qual os jogadores profissionais vão para quadra de tênis com muitas raquetes e mais, alguns deles EXIGEM nossa equipe de encordoadores nas salas de encordoamento profissional dentro de eventos como Gillete Federer Tour 2012, ATP 250 Brasil Open 2013 e 2014 e no RIO OPEN ATP 500 / WTA Internacional 2014. Assim, encordoe suas raquetes o mais próximo do horário do seu jogo possível. Exemplos de quem já trabalhamos e solicitou isto? Serena Williams, Maria Sharapova, Tommy Haas, Venus Williams, Rafael Nadal, etc. Aqui já temos a resposta do por que eles trocam de raquetes de tempos em tempos, sentem que a “batalha” entre raquete e corda, está sendo vencida pelo aro da raquete e neste momento detectam que é necessário reencordoá-la.
A regra das 20 horas
Para um tenista amador, como faço para saber quando devo reencordoar minha raquete? Temos uma regra básica para este estilo de jogador que citamos acima (suponhamos que o caso aqui é de um tenista recreativo, que tem um estilo de jogo onde predomina os golpes mais retos, sem tanta presença de top spin) aconselhamos que este jogador monitore seus jogos, somando a quantidade de horas de jogo que este encordoamento está sofrendo. Quando citamos que a raquete perde tensão parada, sem ser utilizada, nas primeiras 24 horas, depois os dados mostram que esta perda de tensão é interrompida, existe uma estabilidade nesta “batalha” que vai ser reiniciada quando você, tenista, iniciar a jogar com tal raquete. Aí é que está o momento de calcular um pouco, deve-se calcular o intervalo de 20 a 30 horas de jogo (vamos deixar claro aqui, rapazes, HORAS DE JOGO, não adianta falar para a esposa, noiva ou namorada, que está indo no clube para jogar, joga uma horinha e depois fica jogando papo pro alto com os amigos e computar como hora de jogo, cuidado, pois assim está enganando somente a você) pois depois deste intervalo, a corda praticamente não contém mais elasticidade, ou seja, a raquete, venceu a batalha e voltou a seu estado de repouso. Como a corda perdeu elasticidade, não existe mais aquele mesmo movimento de estilingue na corda, que faz com que a corda gere potência nos golpes, controle nos golpes (lógico depende muito de como está regulada sua tensão) e ai neste caso é praticamente incondicional, quem está sendo responsável por este “estilingue” no caso é seu braço e suas articulações, o que aumenta consideravelmente o risco de lesão, é como um carro, em vez de estar trabalhando a 2.000 RPM de motor, está operando a 8.000 RPM de motor. Um carro andando a muito tempo com esta configuração é certo que teremos uma vida útil menor do motor, o mesmo acontece com nosso corpo, estamos encurtando nossa vida de tenista. Sem falar na correção do seu movimento pelo seu subconsciente né, queira você ou não, sem perceber, mudamos o movimento para colocar a bola mais forte, mais rápida ou mais lenta, mais controlada na quadra, e aí meu amigo a primeira a te deixar na mão é a técnica, que várias vezes custa muito dinheiro para construir com um bom professor de sua confiança. Além de atrapalhar teu jogo, uma corda sem elasticidade, fica mais caro que trocar, pois quanto você paga em aulas de tênis e quanto você paga em uma nova corda? Faça as contas!
Quanto a jogadores que rompem cordas antes deste período de tempo, no caso jogadores que utilizam mais top spin, para esses é interessante observar que nem sempre a corda mais rígida é a solução para o problema, as vezes uma combinação perfeita entre cordas rígidas com cordas macias, é uma excelente pedida para durabilidade. Neste caso se encordoarmos a raquete com um co-polimero nas verticais e um multifilamento nas horizontais, a chances são de 90% da corda estourar nas horizontais e com isso ganhamos durabilidade, ganhamos tempo de uso do encordoamento. Para este jogador, deve se levar em consideração que as cordas rompem antes do tempo de utilização pois o que faz uma corda estourar não é o quanto você bate forte na bola e sim o quanto de spin você gera a cada batida.
O calor do snapback
A cada golpe, quando a bola entra em contato com a trama de cordas, nos 0,004 segundos de contato, as cordas se movimentam, elas esticam a um determinado ponto e retornam (dependendo do tipo de corda retornam mais ou não que outras) a seu local natural, esse movimento chamamos de “SNAPBACK” é como uma chicotada que a corda da na bola, este movimento é o responsável pelo Spin. Só que ao mesmo tempo que o snapback é bom para gerar spin, ele gera uma fricção entre as cordas verticais e horizontais. Essa fricção é tão forte que é comum a temperatura da corda no momento do snapback atingir aproximadamente 170 graus centígrados, e alguns materiais que temos presente em cordas de raquetes de tênis se fundem a 120 graus centígrados, ou seja, aqueles “dentes” que a corda obtém durante o jogo deste determinado tenista, não são dentes que indicam perda de material, não saiu nenhum pedaço de sua corda, esses dentes indicam um momento de fusão do material, o que deforma a corda, a deixa mais fina naquele determinado ponto e quanto mais fina, maior a chance de romper. Isto acontecendo diversas vezes, chegamos a conclusão de que em um determinado momento a corda esta tão fina que é impossível conseguir sustentar a bola raspando e gerando atrito na trama de cordas, este é o momento que a corda se rompe e a maioria das pessoas esperam para encordoar sua raquete.
Com spin ou sem
Com estas informações, podemos concluir:
Se você não joga com um top spin muito grande, muito pesado, não tenha vergonha, orgulhe-se de que você é o felizardo de poder jogar com as cordas mais macias, gostosas do mercado e o melhor de tudo, não vai gastar muito dinheiro para isso (exemplos de cordas que podem ser utilizadas por este jogadores são Babolat VS, Wilson Sensation, Babolat Origin, Gioco Grnad Slam, Gamma Revelation, Gamma Professional, etc) pois você encordoará sua raquete com esta corda e utilizará por 20 ou 30 horas de jogo. Levando em consideração um tenista que joga três vezes por semana, ele teria que reencordoar sua raquete em no máximo 10 semanas, acredito que seja um bom tempo para permanecer com uma corda na raquete, se diluirmos o custo de tal corda por cada mês, não acredito que seja um valor tão alto.
E de outro lado, se você é um jogador com muito top spin, o mais indicado seria utilizar um encordoamento híbrido e buscar um especialista em encordoamentos.
Ah, mas eu não sou um tenista profissional. Então entendo que pelo fato de por exemplo você ser um músico amador, você com certeza gosta de tocar com um violão por exemplo desafinado acertei?
Ricardo Dipold é proprietário da Ponto de Contato Tennis Shop (https://www.raquetesparatenis.com.br/), loja patrocinadora da Liga Alphaville de Tênis; tem como formação profissional o status de MRT – Master Racquet Technician certificado pela USRSA – United States Racquet Stringers Association; entidade máxima quanto a excelência de serviços em esportes de raquetes para todos os níveis. Integrante das equipes de encordoamento profissional presentes na Gillette Federer Tour, ATP Challenger Finals, Brasil e Rio Open e agora Australia Open.
Crédito: Matéria anteriormente publicada em http://revistatenis.uol.com.br/artigo/hora-da-troca-de-corda_11935.html
Essa matéria também foi publicada aqui a pedido do próprio Ricardo Dipold, autor do conteúdo, como patrocinador da Liga Alphaville de Tênis.