A Análise Biomecânica em Vídeo tem como objetivo principal, avaliar os golpes de um tenista. Neste artigo tentarei detalhar como esta análise é realizada. Abordarei todas as etapas, que resumidamente, consiste em: análise, diagnóstico e desenvolvimento. A Análise é realizada para os três golpes mais importantes do tênis: saque, forehand e backhand. Aproveito para lembrar que os resultados alcançados (evolução) e mostrados a seguir, foram frutos de um trabalho de 3 meses. Cada item diagnosticado deve ser trabalhado separadamente, várias vezes, até que o tenista automatize este “novo” gesto. Depois que consegue executá-lo sem grandes demandas de atenção (tarefa probatória), passamos para o próximo item diagnosticado. Essas mudanças, obviamente, não devem ser realizadas em períodos de competição. Visando o desenvolvimento técnico/tático do tenista, utilizo uma seqüência pedagógica de técnicas corretivas e também de progressividade quanto aos tipos de treino: drills sem movimentação, drills com movimentação, controle (bate-bola) em situações fechadas, controle em situações abertas, jogos-treino e só então competições. Passando por todas essas etapas, o tenista sentirá menos as mudanças.

Gostaria ainda de registrar que algumas variáveis inerentes ao tenista analisado são cruciais para esta análise e, portanto, são levadas em consideração: estilo tático de jogo, metas, condicionamento físico, calendário de competições, capacidades mentais, entre outras.

1) Etapa – Esta é a etapa mais simples e rápida. Como utilizo uma câmera que registra 600 quadros/segundo, é importante filmar em uma quadra descoberta e em dia de bastante sol. Quando filmamos em um dia nublado, a imagem fica borrada nas fases mais rápidas do movimento. Existem câmeras mais potentes, que registram por exemplo, 10.000 quadros/segundo. Veja este vídeo no YouTube, com a clássica cena da gota de água caindo:

Porém, em nosso caso, bastaria uma câmera que capturasse 60 quadros/segundo. Supondo que um saque dure aproximadamente 1,5 segundo, teríamos 90 fotos de um mesmo saque. Mais que suficiente. As câmeras mais rápidas são úteis em estudos científicos específicos, e portanto utilizadas em ambiente de laboratório.

A filmagem em vários ângulos é justificada para garantir a análise do golpe em pelo menos duas perspectivas. Exemplo: se filmo o tenista apenas de lado, não consigo perceber se está executando o lançamento da bola à direita ou à esquerda. Consigo perceber esta variável quando filmo de frente ou de trás, por exemplo.

Além dos ângulos mostrados, também filmo o tenista em câmera lenta (slow motion), pois são imagens muito úteis durante a fase de demonstração.

2) Etapa – Após a filmagem, capturo as fotos a partir dos vídeos registrados, em uma seqüência pré-determinada, que deve ser a mesma para qualquer tenista analisado. Só assim poderei analisar todos os tenistas com o mesmo rigor. Estas fotos (instantes) representam as 6 fases do golpe, neste caso o saque. Depois de muitas tentativas em padronizar esta seqüência, cheguei aos seguintes instantes ou fases:

Fase 1 – instante em que o tenista inicia o movimento do saque;

Fase 2 – instante em que a bola sai da mão do tenista;

Fase 3 –  instante de máxima flexão dos joelhos;

Fase 4 – instante da perda de contato dos pés com a quadra;

Fase 5 – instante de contato raquete/bola;

Fase 6 – instante de aterrissagem na quadra.

Após capturar as fotos, comparo-as com as fotos de um modelo, neste caso o russo Marat Safin. A escolha de Safin como modelo para o saque é justificada por este tenista executar quase todos os 30 itens que formam minha Base Técnica. Construí esta Base Técnica de acordo com modelos teóricos (estudos científicos) e práticos (dicas de grandes técnicos em revistas e livros especializados). Portanto, primeiro construí a Base Técnica, que demorou quase 4 anos, depois procurei um tenista que se adequasse.

3) Etapa – Esta etapa consiste em diagnosticar os erros técnicos do tenista, a partir da Base Técnica, que como citei anteriormente, é um checklist de 30 itens, distribuídos em 6 fases. Utilizo todos os vídeos registrados para verificar estes itens técnicos. Esta é umas das etapas mais demoradas, pois alem dos 30 itens, preciso avaliar a correlação entre eles, ou seja, como funciona a Cadeia Cinética do golpe. Lembrando o conceito de Cadeia Cinética: esse termo significa que partes de nosso corpo (joelho, quadril, ombro, cotovelo, antebraço e punho) estão conectadas, e então a força ou energia gerada por cada uma delas deve ser transferida para outra. Essa transferência só ocorre de forma eficiente quando existe uma coordenação entre as partes, em determinada sequência, para que a trajetória, a velocidade e o posicionamento da raquete sejam adequados no momento do contato entre a raquete e a bola. Essa correta coordenação é o que chamamos de timing, em que todas as partes do corpo contribuem para gerar velocidade na raquete.

4) Etapa – Consiste na elaboração do Laudo Técnico, que é o “documento” a ser entregue ao tenista, juntamente com o vídeos. Perceba na Figura acima, que este Laudo Técnico possui todas as descrições sobre cada fase do golpe analisado. É o que chamo de checklist. As frases em vermelho correspondem aos erros técnicos, ou seja, os diagnósticos a serem desenvolvidos.

5) Etapa – Com a Laudo Técnico pronto, é hora de demonstrar ao tenista os itens técnicos a serem desenvolvidos. Sempre faço esta etapa em uma sala, ao invés de fazer em quadra. Penso que desta forma o tenista estará mais concentrado. Além de mostrar os itens diagnosticados que precisam melhorar, faço questão de reforçar seus pontos técnicos positivos. Utilizo um vasto banco de dados contendo seqüências de fotos e vídeos em slow motion de grandes jogadores, convencendo assim o tenista a desenvolver mais sua técnica. Quando analiso tenistas que não fazem parte da minha Equipe de Treinamento, sempre solicito a presença do técnico, que é de fundamental importância para a continuidade do trabalho.

6) Etapa – Cada erro técnico detectado poderá agora ser desenvolvido em quadra, através de treinos específicos. São as chamadas técnicas corretivas. Segue um exemplo, que já havia mostrado em outro post:

Estou sempre aprendendo novas técnicas corretivas durante os cursos que ministro para técnicos de tênis. Ocorre uma importante e sadia troca de informações.

A duração desta etapa é muito variável, dependendo do número de itens a serem desenvolvidos, do nível de atenção e comprometimento do tenista, da repetição dos treinos de técnicas corretivas, entre outros fatores.

7) Etapa – Após a execução dos treinos de técnicas corretivas, filmamos novamente o tenista, seguindo o mesmo protocolo. Capturamos novamente as fotos, nos mesmos instantes, e comparamos a técnica atual com a técnica utilizada anteriormente. Desta forma teremos uma boa noção da evolução do tenista.

Veja a continuação desse blog, agora com os Resultados da Análise (os Diagnósticos) nesse outro artigo:

Entenda como funciona a Análise Biomecânica em Vídeo – Pt. 2: Diagnóstico

Prof. Dr. LUDGERO BRAGA NETO

Mestre e Doutor em Biomecânica do Tênis pela USP, onde criou a disciplina “Tênis”. Tenista 1a Classe pela F.P.T., é Coordenador Técnico da Academia Slice Tennis (Alphaville), onde já treinou alguns tenistas de destaque, como Jenifer Widjaja e Thomaz Bellucci.

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