Amigos tenistas,

O ano de 2017 foi muito especial e sinto-me na obrigação de compartilhar com vocês. Há poucos meses, fiz 10 anos de colunista oficial de equipamentos em TenisBrasil, que é o maior de seu segmento no país, e desde então venho publicando artigos com o objetivo principal de auxiliar nós jogadores a tirar o máximo proveito desse universo cheio de particularidades que são os equipamentos de tênis.

Tive também a feliz coincidência de neste ano ter participado do meu primeiro Grand Slam como encordoador, durante o Aberto da Austrália, sendo o segundo brasileiro da história a estar nesse seleto grupo dos melhores do mundo, e também de ter me capacitado durante três dias dentro da sala de encordoamento de Roland Garros, trazendo para cá todas as tendências e o que há de melhor no planeta nesta área.

Pelos motivos acima, achei muito válido fazer uma análise do que mudou/evoluiu nos equipamentos, desde quando comecei a encordoar em torneios profissionais no Brasil Open 2006, torneio pelo qual tenho muito carinho e em pude trabalhar em quatro edições, pois na grande maioria das vezes as mudanças que vêm dos profissionais acabam mudando a rotina de nosso jogo dentro de quadra!

O primeiro fator muito interessante quando comparamos 2007 a hoje é que primeiramente apenas dois dos 10 primeiros ainda figuram nesse ranking (Nadal e Federer) e já parto do princípio que eles também mudaram seus equipamentos para se adequar à nova realidade do tênis.

Em contato com os equipamentos deles, nota-se que Nadal reduziu bem o peso de sua raquete, alterando também o equilíbrio, enquanto Federer aumentou o tamanho da cabeça de sua raquete de 90 para 97 (quase 10% de aumento), entre outras coisas.

Algo que sempre gosto de comentar é que, em um passado recente, os equipamentos eram demasiadamente “engessados”, equipamentos de profissionais eram sinônimo de raquete extremamente pesada, com tensões altíssimas, e os próprios profissionais eram muito “teimosos”, pois passavam praticamente a carreira toda sem mudar absolutamente nada no equipamento.

Pete Sampras mesmo já declarou que, se pudesse voltar atrás, teria sido mais flexível nesse departamento! Outro paradigma que foi alterado é que antes uma raquete de controle (mais profissional) era uma raquete altamente desconfortável e muitas vezes transmitia vibrações nocivas ao braço do tenista. Hoje, graças às novas tecnologias e avanço de materiais, temos raquetes de alto controle e sensibilidade de bola, mas que não vibram e não causam desconfortos.

Saibam que achar/ adaptar seu equipamento para a fase que está passando, além de ajudar a evoluir o jogo, trata-se de respeitar seu corpo e ter a consciência de que seu jogo/ corpo não é o mesmo de anos atrás. Sabiamente, não só Rafa como Roger perceberam isso e hoje (entre outras coisas) colhem os frutos de uma decisão acertada.

Ao fazer uma relação entre os profissionais e nós, amadores, o tipo de jogo predominante (fundo de quadra) que temos hoje exige muito mais do físico, com mais trocas de bola, e precisa do spin para manter margem de segurança. Imagine ficar “puxando” o efeito em uma raquete superpesada durante horas. Esse foi um dos motivos que fizeram Nadal diminuir o peso da raquete. Ou imagine o Federer tendo que chegar em todas as bolas para bater categoricamente no centro de sua cabeça 90, sem poder usar parte da força da bola do adversário.

Então, pude ver ao longo desses anos uma maior preocupação com o conforto, consequentemente longevidade, com os tenistas de todos os níveis apontando para direção de raquetes um pouco mais leves, fáceis de manusear (por tecnologias ou distribuição de peso) e com área de batida maiores. Mesmo nos equipamentos de novos prodígios, como Thiem, Zverev e Sock, pude perceber essas tendências.

No campo do encordoamento (corda+tensão) houve uma grande mudança também em todos os níveis. Hoje uma tensão média que os profissionais usam é algo de 50 a 55 libras, muitos deles usando abaixo de 50 e bem poucos próximos a 60. Claro que isso varia também com a raquete e corda que usam. Mas, como disse anteriormente, a grande maioria nos primeiros torneios que trabalhei usava de 60 libras para cima! E isso também se refletia em minhas lojas.

Outro fator curioso entre os 10 primeiros do ranking de 2007 era o predomínio de cordas monofilamento Luxilon em toda a raquete. Hoje em dia, o estilo de encordoamento que comanda o circuíto profissional e provavelmente seu clube/ academia é o híbrido (leia mais sobre encordoamento híbrido na matéria anterior). Luxilon ainda é a marca líder no circuíto, mas hoje vemos muito mais outras marcas com cordas de muita qualidade, como Yonex, Wilson e Babolat. As cordas híbridas ajudarão o jogador a ter o máximo de equilíbrio na relação de valores como conforto, sensibilidade, controle e potência. Isso praticamente não existia em parte da década passada.

Para concluir, posso afirmar que, felizmente, tanto os profissionais quanto os amadores de 10 anos para cá estão mais “tolerantes” com relação aos equipamentos e sua necessidade e possibilidade atual de jogo, entendendo que se ponderar o longo prazo/ longevidade com a qualidade de jogo, precisarão em muitos casos optar por um kit de raquete e encordoamento mais versátil, pois se tem algo que o tênis de hoje pede, em qualquer nível, é versatilidade.

As raquetes menos pesadas têm sido mais procuradas e há uma preocupação quanto a um kit de encordoamento híbrido que aumente as possibilidades. Tenho convicção de que essas escolhas ajudam também para que o tenista possa jogar saudável por mais tempo. E que houve uma mudança bem acentuada, não apenas da forma de se jogar tênis, mas também do tipo de equipamento para se aliar com essas novas tendências.

Fica a dica para que você, assim como muitos profissionais, esteja aberto a entender que algumas mudanças poderão e deverão lhe trazer benefícios muito além da quadra!

Grande abraço e até a próxima!

Fabrizio Tivolli foi encordoador oficial do Australian Open 2017 e esteve presente em Roland Garros 2017, convidado para acompanhar a sala de encordoamento do torneio e as últimas tendências do circuito; Foi ainda encordoador oficial do Brasil Open em 3 oportunidades além de outros torneios ATP nível Challenger, e vários torneios estaduais e brasileiros. É certificado em encordoamento e análise técnica de raquetes por Lucién Nogues na convenção Babolat Brasil e membro da Associação Europeia de Encordoadores. É técnico e consultor de equipamentos tenísticos; Proprietário e responsável pela área de tênis no grupo Tivolli Sports / Raquete Mania (http://raquetemania.com.br) em Alphaville – loja patrocinadora da Liga Alphaville de Tênis. Autor de dezenas de matérias sobre equipamentos de tênis nos maiores veículos de comunicação do esporte.

Crédito: Matéria anteriormente publicada em http://tenisbrasil.uol.com.br/instrucao/238/A-evolucao-dos-equipamentos-nos-ultimos-10-anos/
Essa matéria também foi publicada aqui a pedido do próprio Fabrizio Tivolli, autor do conteúdo, como patrocinador da Liga Alphaville de Tênis.

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